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domingo, 1 de julho de 2012

Uso de animais como cobaias é destaque da edição de domingo do EM


Ponto crítico
Você é a favor do uso de animais para experimentos científicos?
(Publicação: 01/07/2012 Jornal Estado de Minas, por Jefferson da Fonseca Coutinho, repórter)
NÃO
Franklin OliveiraAmbientalista, correspondenteda Word Society for the Protection of animals (WSPA)
A ciência vem evoluindo a cada dia, sendo que já está comprovado que a maioria dos testes que se realizam em modelos animais não tem as mesmas respostas em modelos humanos. Vários cientistas chegaram a esta conclusão e estão abolindo essa prática. Outras técnicas, como modelos matemáticos, simulações computadorizadas, sistemas biológicos in vitro, e até mesmo busca de bancos de dados de pesquisas já realizadas, podem dispensar a utilização de cobaias. A legislação brasileira vem avançando justamente para diminuir e até abolir esta prática. "O artigo 32 da Lei 9.605/98, parágrafo 1º, dispõe: "Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos". A realização de experimentação científica no Brasil está regulada na Lei 11.794/08, conhecida como Lei Arouca, que estabelece a criação das Comissões de Ética no Uso de Animais (Ceua). Toda e qualquer pesquisa com utilização de animais deverá ser monitorada e avaliada por MS, MCT, Ibama, CRM e CRMV. Sendo que as Ceuas devem manter um representante de organização não governamental (ONG) de defesa animal em sua composição.

SimCarlos Augusto Gontijo Pellegrino 
Médico-veterinário, doutorando em reprodução animal

Tenho conhecimento da polêmica que envolve o assunto. No entanto, como pesquisador ainda em formação, acredito na importância desse tipo de atividade para o desenvolvimento de métodos de cura e melhoria de vida, tanto para o homem quanto para animais de companhia e de produção, além de inúmeros outros usos – avaliação e controle de produtos biológicos, desenvolvimento de vacinas e fármacos, transplantes, estudos de farmacologia, microbiologia e reprodução animal. Camundongos, ratos, coelhos, porquinhos-da-índia, cães e gatos, além de ovelhas, cabras e vacas, são bastante utilizados, tanto em pesquisas científicas e no ensino de universidades, quanto em testes de produtos. Atualmente, existem comissões de ética bastante atuantes de universidades e instituições de pesquisa com a função de estabelecer parâmetros para a prática do uso de cobaias, visando garantir o bem-estar e diminuir o sofrimento desses animais. Na medicina e na veterinária, algumas instituições de ensino já estão reduzindo o número de cobaias utilizadas, substituídas por manequins e programas de computador para a simulação de processos e intervenções cirúrgicas. Cabe ponderar e questionar se os futuros doutores formados por essas escolas terão capacidade e conhecimento in loco para exercer a profissão de maneira eficaz e segura, reduzindo, e até mesmo evitando, o tão temido erro médico. 
Cobaias do homemDesde que o médico e fisiologista francês Claude Bernard (1813-1878), autor de Introdução ao estudo da medicina experimental, começou a defender a lógica do uso de cobaias, não se pode fazer ideia de quantos animais já foram sacrificados pela ciência. A maior parte dos pesquisadores acredita que o homem hoje só tem vivido mais e melhor por causa dos experimentos em laboratórios. De acordo com a organização norte-americana Fundação para a Pesquisa Médica, a evolução da expectativa de vida se deve a pesquisas com animais – o salto foi de 47 anos em 1900 para 75 anos em 1985 nos Estados Unidos. No Brasil, o aumento foi de 25 anos de 1960 a 2010, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, cresce o número de combatentes em defesa dos bichos. São ativistas que creditam à longevidade o estilo de vida, a hereditariedade e o meio ambiente. A partir da força opositora, surge uma nova consciência: comitês e conselhos de ética se espalham pelas escolas biomédicas de Minas para coibir abusos e garantir o bem-estar da população animal a serviço da salvação humana. Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), cientistas, professores e alunos mantêm espaço aberto para o diálogo e se mostram atentos aos cuidados que envolvem a polêmica.
A médica-veterinária Maria Carolina Paiva, de 33 anos, trabalhou duro pela graduação na UFMG. Foram cinco anos mergulhada no aprendizado prático e teórico da vida dos animais. Dos momentos mais difíceis na academia, as visitas aos frigoríficos e alguns experimentos com camundongos. “Já coloquei muito rato no bolso do jaleco para que ele não fosse sacrificado em sala de aula. Depois o devolvia, com vida. Havia um experimento em que um líquido era aplicado no cérebro e o rato perdia o equilíbrio. Nunca quis ficar para o procedimento. Nunca dei conta de participar disso.” 

Depois de manter clínica para pequenos animais na Região da Pampulha, Maria Carolina decidiu trabalhar apenas com a alegria dos filhotes. “A veterinária está na minha vida como sempre esteve. Hoje, porém, como criadora de cães. É uma opção. A academia me deu conhecimento, me ensinou caminhos: cuidar do meio ambiente e estar mais perto dos animais. É essa a parte da veterinária de que mais gosto.”

CIÊNCIA Opção diferente da professora Adriane Pimenta da Costa Val Bicalho, de 47 anos, do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias da mesma escola que formou Maria Carolina. A doutora, casada, mãe e com quatro cães e um hamster em casa, abraçou o ensino e há 22 anos trabalha pela formação e ética de novos profissionais do ramo. “Também sou ativista da causa animal. No entanto, entendo que o uso do animal para a ciência, com ética, ainda é necessário. Pode ser que daqui a algum tempo, com o surgimento de lternativas, isso mude. Já tem mudado muito.”

Ela conta que, desde a conclusão do curso, já ocorreram grandes mudanças e que, quando aluna, não entendia como sacrificavam um cachorro para cada cinco alunos. “Os animais vinham da PBH, da carrocinha. As pessoas foram questionando e isso mudou. Outra prática que me incomodava era a de um estilete colocado na nuca das rãs para que elas pudessem ser dissecadas sem dor. Houve uma mudança na prática do uso não racional para o uso racional.”
Movimento contra a exploração
Janine Guido, de 51 anos, considera que grande parte dos cientistas brasileiros ainda vive na Idade Média. “As universidades mais modernas do mundo investem em métodos substitutivos para poupar os animais. Já o Brasil está na contramão da ciência, com a inauguração de biotérios, produzindo ratos geneticamente modificados, com certificados de qualidade”, critica. '
A ativista é contra o uso de qualquer espécie para experimentos em laboratório. Está segura de que as pesquisas que envolvem cobaias estão muito mais vinculadas aos interesses comerciais dos grandes laboratórios do que à saúde do homem. “Não vivemos mais por causa de remédio algum testado em animais. Vivemos mais por causa de saneamento, higiene e alimentação. Porque aprendemos a lavar as mãos para comer. Por isso. Todo o resto é conversa para boi dormir. Estão tentando adoecer os macacos com o vírus da aids, por exemplo, para buscar a cura. Isso é muito doído”, revolta-se.
Quando pequena, em Caratinga, no Vale do Rio Doce, Janine conta que presenciou cena definitiva na sua relação com os bichos. “Foi terrível ver um boi morto a facadas por dois homens. Ele gritava e sofria, foi um trauma.” Adepta ao veganismo – modo de vida que busca eliminar toda e qualquer forma de exploração animal, não apenas na alimentação, mas também no vestuário, no trabalho, no entretenimento e no comércio –, Janine desenvolve projeto para obrigar, por lei, a informação se houve ou não o uso de experimentação animal no rótulo do que for comercializado. 
“Fazemos de tudo para evitar o consumo dos produtos que exploram animais, mas a indústria é esperta e esconde essa informação. Exigimos o direito de saber.” Recentemente, Janine esteve à frente, em Belo Horizonte, de manifestação que mobilizou ativistas em 47 cidades brasileiras e garante que a luta continua e pretende se espalhar por todo o país.
>> Comitê não aprova abusos
Segundo a professora Adriane, as práticas atuais já são muito mais cuidadosas. Ela comenta a existência de modelos animais, manequins, para o ensino de procedimentos cirúrgicos. Desde cadáveres, conservados especialmente para a prática, aos bichos de pelúcia. Computadores, simulações e situações reais filmadas também auxiliam os estudos da disciplina. 

Sobre as manifestações contrárias ao uso de animais pela ciência, a professora lamenta a falta de informação. “As pessoas, fora da academia, não estão bem informadas em relação às práticas em laboratório. Para lidar com os ativistas é preciso que haja diálogo. Muitas vezes, infelizmente, não é o que ocorre. Outro dia, uma pessoa publicou uma foto nas redes sociais de um cachorro no hospital com informações equivocadas, causando grande revolta. Não era nada daquilo. Ele estava em tratamento.” Para a professora, é preciso mais responsabilidade também na defesa dos animais. “Hoje, o Comitê de Ética no Uso de Animais (Ceua) não aprova o seu projeto de pesquisa se ele for considerado abusivo”, ressalta.

“O que os extremistas não entendem é que sem os animais haveria uma série de problemas comuns, como dores de cabeça, de dente, entre tantas outras, sem remédio.” Como Maria Carolina, hoje criadora de cães, a professora Adriane não esconde sua opção científica mais particular: “Não faço experimento que vai acabar em eutanásia para o animal. É uma opção pessoal. Há um mundo inteiro para ser descoberto. Posso também trabalhar com pesquisas que não exigem o sacrifício”, diz. 

ABSURDOS Um aluno da Escola de Veterinária, com receio de problemas com colegas e professores, pede para não ser identificado. Diz que entende a importância do uso de animais para as aulas práticas, mas lamenta os abusos e a falta de respeito pelos animais por parte de algumas pessoas. “Muita gente ‘coisifica’ a vida animal. Já testemunhei absurdos com ratos e rãs em experimentos que podiam ter sido mostrados em vídeo. Já ouvi de professor que não era para ter dó, porque os animais estão lá para isso mesmo. Não pode ser assim”, critica.

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