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sexta-feira, 13 de maio de 2011
Leishmaniose: “Matar cães não resolve um problema que é de saúde pública e falta de prevenção adequada”
Vitor Márcio Ribeiro, professor da PUC e médico veterinário
Em publicação científica (Cadernos de Saúde Pública, 2004) foi registrado que entre os anos de 1993 a 1997, cerca de 13 mil cães tiveram resultados sorológicos falso positivos, portanto, foram mortos incorretamente, em Belo Horizonte. Uma verdadeira chacina cometida pelo poder público e que não teve punição, pois nada foi apurado pelos órgãos fiscalizadores de atuação dos profissionais responsáveis pelos exames, observou o professor e veterinário Vitor Márcio Ribeiro, durante a palestra “Leishmaniose Visceral: Previna e trate essa doença”, ocorrida no dia 10 de maio, na Assembléia Legislativa de Minas Gerais. “Se fosse um caso de erro médico, como uma tesoura esquecida na barriguinha de uma cadela, a punição não tardaria”, comparou o palestrante.
Ética De acordo com o professor, 50% dos animais soropositivos são assintomáticos, sendo impossível comprovar somente pelo exame sorológico, que esse animal está de fato infectado. Também por isso não se pode aceitar que se mate os animais baseados nesse exame. Os kits para a realização dos exames pelo método da Reação da Imunofluorescência Indireta (RIFI) para o diagnostico da infecção distribuídos pelo Ministério da Saúde aos laboratórios públicos e privados não são utilizados até a diluição final para cada animal, o que compromete a segurança do diagnóstico e mantém a maior probabilidade de falsos positivos por reações cruzadas com diversas condições. A diluição mínima 1:40 favorece o erro e não permite que esses animais possam ser controlados durante o tratamento. Conforme discutido durante a palestra, os exames realizados atualmente para detectar a doença nos levantamentos dos órgãos públicos nos cães pesquisam anticorpos, ou seja, podem sugerir se o cão teve contato com a Leishmania, mas não podem assegurar que ele esteja infectado, doente ou transmitindo o protozoário. “O teste sorológico não é parâmetro, a não ser que seja por diluição plena, demonstrando títulos elevados, acima de 1:160. Por tudo isso, matar cães como se faz no Brasil hoje em dia, como prevenção da Leishmaniose Visceral, não é ético, entre outras coisas, porque falta segurança no diagnóstico correto”, observou o professor e veterinário.
Número de participantes surpreendeu positivamente aos organizadores do gabinete do deputado estadual Fred Costa (PHS)
O professor Vitor Ribeiro explicou que a Leishmaniose Visceral endêmica no Brasil desde os anos 50 é zoonótica e que o maior número de infectados está entre crianças e indivíduos imunossuprimidos, ou seja, aqueles com baixa imunidade, a exemplos de pacientes com HIV ou diabetes. O agente da Leishmaniose Visceral no Brasil é a Leishmania infantum, a mesma que provoca a doença na Europa, nos homens e cães. Em outras partes do mundo, como África e Ásia, quem provoca a Leishmaniose Visceral é a Leishmania donovani. Crianças e indivíduos com baixa imunidade são as vitimas mais freqüentes. O fato se agrava em função da pobreza e falta de condições de infraestrutura, pois a alimentação inadequada e as condições de vida são fatores que pioram o quadro de enfraquecimento do organismo.
Dengue X leishmaniose Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que anualmente ocorrem em torno de 500 mil novos casos por ano de Leishmaniose Visceral, com registro de 50 mil mortes. Em torno de 30% dos casos de Leishmaniose Visceral que ocorrem no mundo, são causados pela Leishmania infantum. A doença nos cães está praticamente em todo território nacional. Em humanos a doença tem grande gravidade. Só para se ter idéia, quando comparamos a Leishmaniose Visceral com a Dengue em Belo Horizonte, em 2010, verificamos que ocorreram 131 casos humanos de Leismaniose Visceral com 22 mortes. Em comparação ocorreram 51.775 casos de Dengue e, desses, 15 mortes.
Lâmina com dicas para se previnir e controlar o vetor
Matar cachorro não é solução Ocupando o topo da lista entre os países da América Latina que apresentam casos de Leishmaniose Visceral, com 90% dos casos, o Brasil se atrapalha na prevenção e exporta equívocos no combate à doença, conforme pontuou o professor e veterinário. A OMS, inclusive, em seu informe oficial, publicado em 2010, cita o país, como exemplo de estratégia inócua no combate à doença a partir do maciço e radical extermínio de cães.
“É fato comprovado em estudos estatísticos, sem quaisquer apelos emocionais envolvidos, que matar cachorro é a estratégia de menor eficiência para o controle da doença. Estratégias voltadas para o controle do vetor e campanhas de vacinação são os métodos preventivos mais eficazes no combate à doença, conforme apontam os estudos científicos”, destacou o professor.
Ainda de acordo com o palestrante, existe expectativa de que o Ministério da Saúde (MS) se posicione sobre a utilização das vacinas existentes no Brasil contra a doença nos cães, uma vez que conforme os estudos apresentados pelos laboratórios não parece existir dúvidas sobre suas eficácias e resultados. Parece haver receio de que a aprovação dos produtos resulte em gastos com campanhas nacionais de vacinação, que seguramente devem ser cobradas pela sociedade. Uma vez que, assim como no caso da raiva, uma zoonose que também acomete seres humanos, o MS realiza campanhas de vacinação em todo o país e o mesmo deveria ser feito em relação às vacinas de prevenção à leishmaniose.
Platéia atenta: palestra prendeu a atenção dos presentes
Forma de transmissão A transmissão da Leishmania infantum se dá pela picada da fêmea do flebótomo, após ter picado, e se contaminado, em um animal ou até mesmo em um homem infectado. Portanto, explica o palestrante em tom de brincadeira, que não se pega leishmaniose pelo contato com o animal ou homem infectado, doente e em tratamento.Você pode beijar e ser beijado por alguém infectado, seu cachorro doente também pode lambê-lo que você não vai pegar a doença.
Além dos cães, outros reservatórios, como raposas, gambás, homens, ratos e gatos são descritos na literatura cientifica. É evidente que não dá para sair matando esses reservatórios, ressalta, observando, por exemplo, que matar gambás e raposas, animais da fauna nacional, é crime. A discussão aqui passa, sobretudo, pelo controle das populações de animais reservatórios, através da esterilização e métodos contraceptivos.
Prevenção Como formas de prevenção à doença, o professor Vitor Ribeiro também destacou o uso de inseticidas centrados nos cães, como a coleira impregnada com deltametrina (a coleira Scalibor), inseticidas tópicos piretróides, inseticidas ambientais, manejo ambiental e evitar exposição dos cães fora de casa em horários crepusculares (início da manhã e fim de tarde) e noturnos, momentos em que a fêmea do flebótomo estará ativa para sua alimentação.
A reação de muitos donos de cães que consideram o animal como um membro da família é escondê-lo das autoridades sanitárias que, não raro, abusam dessa autoridade de forma tirânica e ditatorial para retirar um cachorro cujo resultado tenha sido soropositivo. A orientação é para que essas pessoas procurem atendimento jurídico junto às Anclivepa estaduais. Em Minas, a assessoria do gabinete do deputado Fred Costa também foi colocada à disposição durante a palestra
Uma vez infectado, a alternativa é o acompanhamento veterinário para seu tratamento, que, não é reconhecido pelo Ministério da Saúde, mas que vem sendo defendido cada vez mais pelos médicos veterinários, atentos à qualidade de vida e importância do cão nas famílias. O grande desafio do tratamento,reconhece Vitor Ribeiro, é o acompanhamento, pois ele requer o comprometimento do proprietário, ou seja, passa pela conscientização para a guarda responsável do animal, com o controle por toda sua vida e uso constante de produtos inseticidas, além dos medicamentos prescritos pelo veterinário. (Texto e fotos: Nádia Santos)
Para entender o caso: Falta ainda pronunciamento do Ministério da Saúde sobre a validade das vacinas. O Ministério da Agricultura, por sua vez, já deu parecer favorável. A nota de esclarecimento abaixo foi transcrita da página do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Minas Gerais (CRMV MG):
Nota de Esclarecimento *
10/1/2011
Ministério da Saúde e Ministério da Agricultura esclarecem sobre vacinas antileishmaniose Visceral Canina registradas no MAPA
A leishmaniose visceral (LV) é uma zoonose, de transmissão vetorial, considerada um problema de saúde pública no Brasil, tendo em vista sua magnitude, letalidade e expansão geográfica.
Essa doença envolve três componentes principais: vetor, reservatório e homem susceptível, sendo o cão o principal reservatório doméstico e importante fonte de infecção para o vetor. As ações de controle estão centradas no diagnóstico precoce e tratamento adequado dos casos humanos, vigilância entomológica, saneamento ambiental e controle químico, vigilância e monitoramento canino com eutanásia de cães sororreagentes. Nesse contexto, uma vacina capaz de proteger o cão e, conseqüentemente, diminuir as taxas de transmissão para o homem seria de grande importância como medida adicional de controle da LV.
Os laboratórios Fort Dodge Saúde Animal e Hertape Calier Saúde Animal estão comercializando, no Brasil, as vacinas contra leishmaniose visceral canina Leishmune® e Leish-Tec® respectivamente, devidamente registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Diante disso, os Ministérios da Saúde e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento esclarecem que:
As vacinas Leishmune® e Leish-Tec® já tiveram os ensaios em animais de laboratório (testes pré-clínicos) e estudos de Fase I e II completados, estando os estudos de fase III em andamento.
Os resultados dos estudos de fase I e II das vacinas Leishmune® e Leish-Tec® permitiram, em 2003 e 2006 respectivamente, o registro desses produtos no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), pois atendiam aos critérios estabelecidos na legislação vigente, à época.
Em 2007, após consulta pública, o MAPA e o Ministério da Saúde (MS) publicaram a Instrução Normativa, regulamenta a pesquisa, desenvolvimento, produção, avaliação, registro e renovação de licenças, comercialização e uso de vacinas contra a LV canina. De acordo com a mesma, o desenvolvimento de vacinas antileishmaniose visceral canina deve contemplar a realização de testes para determinar a segurança, a eficácia, a inocuidade, a proteção à infecção e a imunogenicidade das vacinas, conduzidos por meio de ensaios de Fase I, Fase II e Fase III. Ainda de acordo com essa IN, as empresas que já possuíam registro de vacinas, dispõem de um prazo de 36 meses, a partir de 09 de Julho de 2007, para realizarem e apresentarem ao órgão competente os estudos de Fase III, para fins de renovação e manutenção do registro.
As vacinas registradas no MAPA cumprem com os requisitos técnicos de eficácia, vigentes no momento da concessão dos registros (anos de 2003 e 2006). Entretanto, o Ministério da Saúde ainda não recomenda o seu uso em Saúde Pública, pois estão sendo realizados estudos para avaliar o uso destes produtos para este fim.
Brasília, 03 de maio de 2009.
Gerson Oliveira Penna
Secretário de Vigilância em Saúde
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Inácio Afonso Kroetz
Secretário de Defesa Agropecuária
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E
ABASTECIMENTO
* Fonte: CRMV MG
Postado por
Bichos de Companhia
às
18:41
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adorei a matéria! me esclareceu mto!
ResponderExcluirmoro em araçatuba-sp, cidade que apareceu no programa fantástico da globo anos atrás justamente pelo índice elevado tanto de leish como de dengue.
lógico que como moradora da cidade e com cão da raça chow chow em casa fui pesquisar e, encontrei tratamentos alternativos que vi a eficácia em cães de amigos. a kalonchoe junto com alopurinol.
mas a minha maior dúvida é sobre o medicamento glucantime que é usado na europa p/ o tratamento da leish nos cães e aqui no Brasil é proibido. pq? sei q é possível adquirir o glucantime através de brasileiros na europa e o tratamento é eficaz. então, pq o MS não libera?
grata,
heloísa fernandes
araçatuba-sp
Heloisa, o professor Vitor falou, inclusive, do glucantime na palestra. A proibiçao do medicamento no Brasil está totalmente atrelada ao nao reconhecimento do tratamento e prevençao adequada da leish no país. Todos sabem o motivo, mas apenas alguns têm coragem de dizer: se o MS reconhecer tratamento, sobretudo, vai ter de bancar a vacinaçao assim como no caso da raiva.... Há um entrave, inclusive, envolvendo Ministérios da Agricultura e da Saúde sobre o assunto. Por outro lado, o professor Vitor foi enfático em dizer que no Brasil temos medicamentos tão eficazes qto o glucantime e nao precisamos da liberaçao dele para tratar nossos cães. Se quiser, faça contato com o professor Vitor na clínica dele, chama-se Clínica Santo Agostinho, aqui em BH. Ele terá enorme prazer em esclarecer suas dúvidas. E obrigada pela visita e comentário. Abraço.
ResponderExcluirParabéns pela reportagem^^ Vai ser um link mto bom pra elucidação sobre leishmaniose de muitos clientes e amigos meus!
ResponderExcluirAbraço!
Thaís (veterinária)
Prezados, este senho Vitor na minha opinião não passa de um mercantilista, se aproveitando do desespero alheio em benefício próprio. Quem quiser mais detalhes, entre em contato comigo: matarelli@gmail.com
ResponderExcluirPrezados Luciano e Rita, o Bichos de Companhia é um canal aberto àqueles que falam em favor dos animais. Não temos partido, não estamos ligados a nenhuma ong, associação, pet shop ou clínica veterinária. Somos democráticos, aceitamos críticas e sugestões que nos ajudem a ficar cada vez melhores, podendo contribuir ainda mais com a causa. O blog não tem absolutamente nada, muito pelo contrário, que nos leve a julgar pejorativamente o trabalho do dr. Vitor. Sabemos, inclusive, do seu histórico como vet, a sua respeitabilidade na classe a qual pertence, e os estudos importantíssimos sobre assuntos, como a leishmaniose, em que possui grande conhecimento e contribui enormemente para a ampliação da informação a respeito do tema. Já lhe mandamos um e-mail perguntando o que teria acontecido e dando-lhes chance de falar para que pudéssemos buscar esclarecimentos junto ao próprio veterinário sobre o que possa ter acontecido, com a proposta exclusiva de esclarecer os fatos. Estamos à disposição para isso. Só não concordamos que o blog seja usado para denegrir a imagem de ninguém sem dar ao acusado o direito de resposta. Isso não é legal. Estamos abertos a vocês e ao médico vet a fim de colocarmos a questão às claras. Um grande abraço.
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