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terça-feira, 3 de agosto de 2010

As torturas de Madrid *



Há algum tempo, abordamos aqui as polêmicas levantadas pelas touradas espanholas e portuguesas e sua, por assim dizer, versão brasileira, as vaquejadas e rodeios no que tangem ao sofrimento animal. Nos últimos dias, a notícia de que as touradas estarão proibidas na Catalunha, a partir de 2012 (ainda! Podia ser já!), ganhou machetes de jornais Brasil e mundo afora. A propósito desse contexto e, sempre, com o objetivo de trazer informações e opiniões de especialistas aos leitores deste blog, abrimos espaço à abordagem crítica e inteligente da médica Eulália Jordá-Poblet, com o artigo "Torturas de Madrid", publicado no jornal O Tempo, de Belo Horizonte, em 24/06/2010.

Para aqueles que desejam saber mais sobre a postagem anterior que abordou a história das touradas, basta procurar entre os posts no arquivo deste blog (à direita), do mês de junho, a postagem "Touradas: dor em nome do turismo", publicado aqui também em 24/06/2010.

Novamente, me lembro de agradecer à mi maestra de español, Tatiane Rezende, pelas fotos, resultado de trabalho de pesquisa feito por ela. E, imagino que, tendo cedido material uma vez, não se importará se usarmos de novo as fotografias.




* Texto de Eulália Jordá-Poblet **

"A reportagem sobre o toureiro Júlio Aparício, gravemente ferido por um touro,
circulou na internet e durou “cinco minutos”de aparição espetacular, tempo máximo
que os fatos da hipermodernidade costumam se demorar. O chifre perfurou o pescoço
do matador, atravessou a base de sua língua, saindo por sua boca. Júlio dizendo que
brevemente voltará às arenas para matar outros touros.
Sabemos através do velho e bom Guy Debord que o poder do espetáculo tem essência despótica. E é assim que as touradas fazem parte de um sistema unitário no
qual o “esporte”-espetáculo irmana-se à medicina-espetáculo, à política-espetáculo e à Justiça-espetáculo, sem, no entanto, perder sua agressividade primitiva, ritualizada no formato de tortura dentro da catedral dos horrores chamada praça de touros.
Nada mais humano que o crime, nos diz o artigo do genro de Lacan,Jacques-Alain Miller. Mas, o que nos diria Freud sobre a responsabilidade dos que assistem ao crime e com ele se divertem? Freud nos explica que existe responsabilidade
até no que sonhamos –o que diria daquilo que francamente apoiamos?

É aqui que se abre espaço para a figura do turista-chavão (o mesmo que vai a
Roma e automaticamente sente-se obrigado a ver o papa) e o turista-Eichmann, que,
como o ícone nazista, não questiona o que faz, o que assiste e, principalmente, o que
mantém através da compra do ingresso.




O turista, apesar de seu bonezinho ingênuo, não é um sujeito neutro e muito
menos um personagem passivo. No caso das touradas, é pior do que isso: é medíocre,
é banal. Na atualidade, é esse turista “come-pipoca” o principal responsável – rivaliza apenas com os subsídios oferecidos pelas administrações centrais e regionais espanholas – por as arquibancadas das praças de touros não estarem entregues às moscas.


Essa afirmação encontra respaldo em pesquisa do Instituto Gallup, de 2006, pela
qual aproximadamente 70% dos espanhóis declararam não ter interesse nenhum nas
touradas, e em um plebiscito de 2009 no qual 75% dos catalães votaram pelo fim das
touradas em Barcelona.
A tauromaquia- substantivo malicioso, criado para amaciar a palavra tortura
e elevá-la ao patamar de “arte” – é equivocadamente interpretada por muitos como
uma manifestação tradicional muito antiga desse país ibérico chamado Espanha. Na
verdade, a tourada, como a conhecemos hoje, que culmina com a morte do touro, é uma
manifestação bastante recente, que tem suas raízes no século XVIII.
As “nossas touradas brasileiras”são os rodeios, as vaquejadas e as farras de
boi cuja origem associa influências portuguesas, espanholas, americanas e mesmo
autóctones. E é sabido que, quando há aguda desigualdade entre dois seres, como a que
existe entre o toureiro e o touro – muito poder de um lado e escasso poder do outro-, só pode surgir a tortura, em seu estado mais bruto."

**Eulália Jordá-Poblet é médica. E-mail: eulaliafjp@hotmail.com. Texto publicado no jornal O TEMPO de 24/06/2010.

2 comentários:

  1. Qualquer dia desses eu jogo uma bomba atômica nessa cidade! Aguardem! Afinal, estudamos pra isso. Não sei porque tenho mais pena de animais irracionais do que do meu próprio semelhante! Talvez eu ache justo em não ter pena de nós! Adoraria ver na TV um dia, com humanos na arena se degladiando, derramando sangue podre na terra manchada. Acharia mais justo e coerente.

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  2. Davi, compreendo sua revolta pelo sofrimento dos animais imposto pelo homem a troco do que acreditam ser uma diversão. Na verdade, sob meu ponto de vista, uma barbarie covarde, praticada por puro sadismo. Enfim, o fato é que, apesar de tudo isso, não podemos nos igualar a esses bárbaros e apelar para a violência. Violência não paga violência, só piora. Temos de vencer pela educação, pela cidadania, pela conscientização, pela inteligência sob a ignorância assassina e covarde desses seres que se julgam humanos para com os animais. Pense nisso, pois precisamos de inteligências como a sua para vencer. E obrigada pela sua visita e comentário.

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