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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Cavalo de lata é apresentado na UFMG

Protótipo desenvolvido no Sul do país
e que será piloto para o Brasil
O cavalo de lata é um projeto que saiu do papel com o objetivo de ser um carrinho elétrico que substituísse as carroças movidas pela tração animal na coleta de resíduos e, ainda, contribuir com o trabalho do catador. O protótipo é criação do engenheiro de produção Jason Duani Vargas e se transformou em solução para o problema apresentado pela a ativista Ana Paula Knak, jornalista, com quem mantém um relacionamento, e que se mostrou preocupada com a situação dos cavalos que puxam carroças pelas vias urbanas.

Jason Vargas: o criador do cavalo de lata
O projeto desenvolvido na cidade gaúcha de Santa Cruz do Sul, a 150 km de Porto Alegre, foi apresentado aos belo-horizontinos durante o Ciclo de Debates Abrelatas 2013, no dia 04 de setembro, na UFMG. O escopo dos debates era discutir ideias e inovações viáveis e possíveis de implementação em nome da sustentabilidade. O cavalo de lata também será apresentado neste semestre em Fortaleza e Curitiba.

A expectativa do engenheiro Jason Vargas é que em 30 dias o cavalo de lata entre em fase de teste junto aos catadores de Santa Cruz do Sul, ávidos para experimentar o carrinho elétrico, alternativa de trabalho mais eficiente que também é não poluente. Jason Vargas afirma que durante todo o processo ouviu os catadores da cidade, além de ter conhecido de perto a realidade deles a fim de executar um protótipo capaz de atender às necessidades desses trabalhadores que têm um importante papel para a economia e para o meio ambiente.

Iniciativa privada Para implementar o projeto e colocar os carrinhos para circular pela cidade na coleta de resíduos, o cavalo de lata tem o apoio da iniciativa privada. A empresa Mercur, que tem sede em Santa Cruz do Sul, apostou no cavalo de lata e  vai colaborar com a sua implantação nesta fase inicial, financiando a produção dos carrinhos que serão entregues ao catadores.

O modelo atual se destaca pelo motor e bateria
recarregável como um celular

Antes de ganhar as ruas, o cavalo de lata já teve, pelo menos, três modelos e adaptações até chegar ao atual. Já teve roda de bicicleta, com pedal e guidão, moto e, por fim, ganhou um motor elétrico, a única parte que é importada. As demais peças da montagem vêm de veículos de fabricação nacional, o que contribui com o custo de manutenção mais baixo em caso de quebra e necessidade de troca.


Descrição do protótipo 
Custos e benefícios O custo de aquisição do carrinho atualmente gira em torno R$ 20 mil. Porém, ressalta o engenheiro, a tendência é que esse valor fique mais baixo a partir do momento que seja produzido em série ou mediante novas adaptações de acordo com a topografia e demanda. Jason Vargas explica que o carrinho elétrico tem capacidade para transportar até 500 quilos de carga, faz até 25 km por hora e a bateria tem autonomia para rodar até 60 km por dia. Ela é carregável como a bateria de um celular e leva, no máximo, cinco horas para gerar carga completa.


Antes de encarar o teste nas ruas, o carrinho
vai ganhar cobertura e para-brisa

Na comparação dos custos para quem trabalha hoje como carroceiro devem ser considerados os valores com ração e cuidados com o cavalo ao consumo de eletricidade do carrinho que, segundo cálculo do engenheiro, varia entre R$ 0,2 e R$ 0,6 por quilômetro rodado, a depender da topografia com mais ou menos aclives. Ou seja, o gasto com energia elétrica para carregar a bateria giraria em torno de R$ 4, se for considerada quilometragem máxima de 60 km rodados com a autonomia da bateria, que também funciona como geradora nas descidas, em contrapartida aos gastos com a manutenção do cavalo que são muito superiores. “Nas descidas, o motor do carrinho passa a funcionar como gerador, recuperando a energia gasta na subida e diminuindo o tempo a ser gasto para carregar a bateria na corrente elétrica”, destaca Jason Vargas.

Projeto piloto A cidade de Santa Cruz do Sul se prepara para ser piloto do projeto e também tem ciência de que deverá desenvolver uma legislação específica para circulação desse tipo de veículo fora dos padrões convencionais, mas, que assim como as carroças, também irão circular em meio ao tráfego de ônibus, carros e pedestres. “Cada cidade terá de adaptar sua legislação para a circulação desses veículos, com a proposição de autorização para a condução”, propõe. O modelo que será testado em Santa Cruz do Sul ainda vai ganhar fechamento da cabine do condutor e para-brisa antes de sair pelas ruas da cidade gaúcha.

O vice-presidente da Asmare – Associação dos Catadores de papel, papelão e material reaproveitável, em Belo Horizonte, Alfredo Souza Matos, foi conferir de perto o cavalo de lata e observou atentamente as condições do veículo e as manobras realizadas no pátio da Praça de Serviços, da UFMG. Enquanto isso, relembrava iniciativa do primeiro mandato do então presidente Lula que propiciou aos catadores de associações testar um outro tipo de veículo composto por carroceria puxada pelo trabalhador e acionamento de motor manual e que não deu certo na capital mineira em virtude dos aclives acentuados. “O trajeto feito pelo catador do bairro Barro Preto até a avenida João Pinheiro, de cerca de sete quilômetros, entre aclives nas avenidas Afonso Pena, Andradas e João Pinheiro e rua dos Carijós, era feito com tranquilidade só na ida, mesmo com o carrinho vazio. A volta era impossível, pois o catador já estava exausto”, observou Alfredo Matos.

Em relação ao protótipo de Santa Cruz do Sul, o vice-presidente da Asmare aponta como ponto crítico o tamanho da carroceria, considerada muito pequena, e real capacidade de carga. “A carroceria deveria ser maior, nos moldes das que trabalhamos atualmente, tendo mais espaço para melhor resultado e acondicionamento de volume de carga transportada, que na maioria das vezes está mal acondicionada e ocupa área maior”, pontuou.

Em contrapartida, o engenheiro responsável pelo projeto, Jason Vargas, defende que seu carrinho atende à demanda dos catadores ouvidos em Santa Cruz do Sul para que o modelo fosse o mais adequado às necessidades dos trabalhadores. “O catador ganha por quilo de material. Por este motivo, adaptamos o motor em substituição ao primeiro modelo de pedal para ganharmos em eficiência e maior quantidade transportada em relação ao que ele consegue carregar hoje sem o carrinho, em carroças. Por outro lado, temos que destacar que a coleta de resíduos e a reciclagem só vão funcionar bem quando a sociedade também fizer a sua parte no que diz respeito ao descarte e à separação do lixo”, ponderou o engenheiro, consideração que está diretamente relacionada à crítica sobre a capacidade de transporte de carga do modelo atual do cavalo de lata em relação ao volume e espaço que o material ocupa na carroceria.


Protetores de BH foram conferir a apresentação e
já pensam em como viabilizar o projeto por aqui
O cavalo de lata tem como base a dignidade humana e, sobretudo, a proteção animal. Proposta que vai ao encontro dos anseios de ativistas que defendem o respeito e a integridade dos animais. Um modelo alternativo, viável, com adaptações no custo e parcerias simultâneas entre governo e iniciativa privada numa aposta sustentável ao meio ambiente e à economia dos municípios.

Cenas como esta são absurdos que remontam
à Idade Média. Trazem perigos ao
trânsito e risco de doenças à população, tendo em vista o estado
deplorável em que esses animais são mantidos:
o carrinho é alternativa sustentável
Para saber mais sobre o cavalo de lata, acesse a página do projeto no Facebook.



Vídeo da palestra de apresentação do cavalo de lata em BH, no dia 04/09/13


Um comentário:

  1. A pergunta que não quer calar é: o que fazer com os cavalos dos carroceiros? Para onde levá-los?

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