Protótipo desenvolvido no Sul do país e que será piloto para o Brasil |
O cavalo de
lata é um projeto que saiu do papel com o objetivo de ser um carrinho elétrico
que substituísse as carroças movidas pela tração animal na coleta de resíduos
e, ainda, contribuir com o trabalho do catador. O protótipo é criação do
engenheiro de produção Jason Duani Vargas e se transformou em solução para o
problema apresentado pela a ativista Ana Paula Knak, jornalista, com quem mantém um relacionamento, e que se mostrou preocupada com a situação dos cavalos
que puxam carroças pelas vias urbanas.
O projeto
desenvolvido na cidade gaúcha de Santa Cruz do Sul, a 150 km de Porto Alegre,
foi apresentado aos belo-horizontinos durante o Ciclo de Debates Abrelatas
2013, no dia 04 de setembro, na UFMG. O escopo dos debates era discutir ideias
e inovações viáveis e possíveis de implementação em nome da sustentabilidade. O
cavalo de lata também será apresentado neste semestre em Fortaleza e Curitiba.
Jason Vargas: o criador do cavalo de lata |
A
expectativa do engenheiro Jason Vargas é que em 30 dias o cavalo de lata entre
em fase de teste junto aos catadores de Santa Cruz do Sul, ávidos para
experimentar o carrinho elétrico, alternativa de trabalho mais eficiente que
também é não poluente. Jason Vargas afirma que durante todo o processo ouviu os
catadores da cidade, além de ter conhecido de perto a realidade deles a fim de
executar um protótipo capaz de atender às necessidades desses trabalhadores que
têm um importante papel para a economia e para o meio ambiente.
Iniciativa privada Para implementar o projeto e colocar
os carrinhos para circular pela cidade na coleta de resíduos, o cavalo de lata
tem o apoio da iniciativa privada. A empresa Mercur, que tem sede em Santa Cruz
do Sul, apostou no cavalo de lata e vai
colaborar com a sua implantação nesta fase inicial, financiando a produção dos carrinhos que serão entregues ao catadores.
O modelo atual se destaca pelo motor e bateria recarregável como um celular |
Antes de
ganhar as ruas, o cavalo de lata já teve, pelo menos, três modelos e adaptações
até chegar ao atual. Já teve roda de bicicleta, com pedal e guidão, moto e, por
fim, ganhou um motor elétrico, a única parte que é importada. As demais peças
da montagem vêm de veículos de fabricação nacional, o que contribui com o custo
de manutenção mais baixo em caso de quebra e necessidade de troca.
Custos e benefícios O custo de aquisição do carrinho
atualmente gira em torno R$ 20 mil. Porém, ressalta o engenheiro, a tendência é
que esse valor fique mais baixo a partir do momento que seja produzido em série
ou mediante novas adaptações de acordo com a topografia e demanda. Jason Vargas
explica que o carrinho elétrico tem capacidade para transportar até 500 quilos
de carga, faz até 25 km por hora e a bateria tem autonomia para rodar até 60 km
por dia. Ela é carregável como a bateria de um celular e leva, no máximo, cinco
horas para gerar carga completa.
Antes de encarar o teste nas ruas, o carrinho vai ganhar cobertura e para-brisa |
Na comparação dos custos para quem trabalha hoje como carroceiro devem ser considerados os valores com ração e cuidados com o cavalo ao consumo de eletricidade do carrinho que, segundo cálculo do engenheiro, varia entre R$ 0,2 e R$ 0,6 por quilômetro rodado, a depender da topografia com mais ou menos aclives. Ou seja, o gasto com energia elétrica para carregar a bateria giraria em torno de R$ 4, se for considerada quilometragem máxima de 60 km rodados com a autonomia da bateria, que também funciona como geradora nas descidas, em contrapartida aos gastos com a manutenção do cavalo que são muito superiores. “Nas descidas, o motor do carrinho passa a funcionar como gerador, recuperando a energia gasta na subida e diminuindo o tempo a ser gasto para carregar a bateria na corrente elétrica”, destaca Jason Vargas.
Projeto piloto A cidade de Santa Cruz do Sul se
prepara para ser piloto do projeto e também tem ciência de que deverá
desenvolver uma legislação específica para circulação desse tipo de veículo
fora dos padrões convencionais, mas, que assim como as carroças, também irão
circular em meio ao tráfego de ônibus, carros e pedestres. “Cada cidade terá de
adaptar sua legislação para a circulação desses veículos, com a proposição de
autorização para a condução”, propõe. O modelo que será testado em Santa Cruz
do Sul ainda vai ganhar fechamento da cabine do condutor e para-brisa antes de
sair pelas ruas da cidade gaúcha.
O
vice-presidente da Asmare – Associação dos Catadores de papel, papelão e
material reaproveitável, em Belo Horizonte, Alfredo Souza Matos, foi conferir
de perto o cavalo de lata e observou atentamente as condições do veículo e as
manobras realizadas no pátio da Praça de Serviços, da UFMG. Enquanto isso,
relembrava iniciativa do primeiro mandato do então presidente Lula que
propiciou aos catadores de associações testar um outro tipo de veículo composto
por carroceria puxada pelo trabalhador e acionamento de motor manual e que não
deu certo na capital mineira em virtude dos aclives acentuados. “O trajeto
feito pelo catador do bairro Barro Preto até a avenida João Pinheiro, de cerca de sete quilômetros, entre
aclives nas avenidas Afonso Pena, Andradas e João Pinheiro e rua dos Carijós,
era feito com tranquilidade só na ida, mesmo com o carrinho vazio. A volta era impossível, pois o catador
já estava exausto”, observou Alfredo Matos.
Em relação
ao protótipo de Santa Cruz do Sul, o vice-presidente da Asmare aponta como ponto
crítico o tamanho da carroceria, considerada muito pequena, e real capacidade
de carga. “A carroceria deveria ser maior, nos moldes das que trabalhamos
atualmente, tendo mais espaço para melhor resultado e acondicionamento de
volume de carga transportada, que na maioria das vezes está mal acondicionada e ocupa área maior”, pontuou.
Em
contrapartida, o engenheiro responsável pelo projeto, Jason Vargas, defende que
seu carrinho atende à demanda dos catadores ouvidos em Santa Cruz do Sul para
que o modelo fosse o mais adequado às necessidades dos trabalhadores. “O
catador ganha por quilo de material. Por este motivo, adaptamos o motor em
substituição ao primeiro modelo de pedal para ganharmos em eficiência e maior
quantidade transportada em relação ao que ele consegue carregar hoje sem o carrinho, em carroças. Por outro
lado, temos que destacar que a coleta de resíduos e a reciclagem só vão
funcionar bem quando a sociedade também fizer a sua parte no que diz respeito
ao descarte e à separação do lixo”, ponderou o engenheiro, consideração que
está diretamente relacionada à crítica sobre a capacidade de transporte de
carga do modelo atual do cavalo de lata em relação ao volume e espaço que o
material ocupa na carroceria.
Protetores de BH foram conferir a apresentação e já pensam em como viabilizar o projeto por aqui |
Para saber
mais sobre o cavalo de lata, acesse a página do projeto no Facebook.
Vídeo da palestra de apresentação do cavalo de lata em BH, no dia 04/09/13
A pergunta que não quer calar é: o que fazer com os cavalos dos carroceiros? Para onde levá-los?
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