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sexta-feira, 22 de março de 2013

Cães envenenados em Bicas chocam e expõem a impunidade e a falta de políticas públicas

Cena de cão tentando animar cadela envenenada 
por serial killer de Bicas, MG, foi destaque nos principais jornais.
(Foto de Ricardo Rossi para o jornal Estado de Minas)

Opinião do Bichos de Companhia
Falta de política pública e leis mais severas 
estão por trás dos envenenamentos

A notícia da morte de cães por envenenamento em Bicas, cidade vizinha a Juiz de Fora, em Minas Gerais foi destaque dos principais jornais desta quinta, 22 de março, e, claro, chocou a população - mesmo entre aqueles que não são muito fãs de cachorros. E não é pra menos, afinal, um ser humano normal não pode ficar alheio e insensível a tamanha crueldade.

Acreditem, o que ocorre em Bicas não é um fato isolado. Mesmo nas grandes cidades e em municípios menores e grotões rurais animais são vítimas fáceis da ignorância humana e sofrem maus-tratos, violência sexual e são mortos todos os dias. Freud e a psicologia seriam capazes de explicar o que leva a mente humana a executar atos libidinosos contra um animal, um cachorro, um cavalo ou a arquitetar atos de crueldade pura, torturas que levam muitos seres à morte? 

Pensemos em Bicas e analisemos o ápice da crueldade e dos sentimentos maquiavélicos e hediondos que permeiam o cérebro do assassino dos cachorros na cidade que, aliás, pode achar pouco e em breve sair matando com requintes de violência os seus próprios semelhantes. Um ser humano tão desprezível que prepara pães recheados com carne e uma substância vermelha fatal e distribui aos cães da cidade para matar. Nem Jesus este ser humano tacanho deve ter no coração, decerto não! Porque Jesus multiplicou os pães e entregou aos seus discípulos para provar o milagre da vida, da sabedoria do compartilhamento. O ser humano desprezível preparou guloseimas apreciadas pelos cães mais simples, sobretudo aqueles que perambulam famintos e abandonados pelas ruas por outros seres humanos insensíveis e tão desprezíveis quanto o assassino de Bicas e goza de prazer ao saber que seus quitutes fatais darão cabo a vidas de seres inocentes, que não têm culpa pela falta de planejamento de outros humanos ao adquirir um animal sem se preocupar com o futuro dele, com a saúde, com crias indesejáveis e com a negligência, ineficiência e inoperância dos governos e políticas públicas de saúde e campanhas de conscientização e prevenção contra zoonoses e outras doenças. 

Enquanto falta ação do poder público, sobram verbas que deveriam ser destinadas para as políticas públicas e são desviadas para as contas de políticos corruptos, que se elegem pela compra e troca de votos por favores sazonais e circunstanciais que não resolvem nem mesmo o problema do eleitor comprado no médio e no longo prazo. De propósito, não é mesmo? Afinal, os políticos vão precisar  trocar favores por votos a cada quatro anos. 

Sobram também ineficiência das autoridades policiais que padecem da falta de pessoal e da falta de leis mais rigorosas para serem aplicadas àqueles que cometem crimes ambientais. Fiquemos de olho, pois o serial killer de cães de Bicas de hoje pode ser o assassino de nossos filhos humanos de amanhã porque provou o gosto do sangue de inocentes, não teve a repreensão na medida e saiu impune e, pode querer incrementar seus artefatos fatais e experimentá-los contra seus próprios semelhantes.

Por outro lado, cumpre-nos pensar na hipótese de que o assassino de Bicas possa estar incomodado com o número de cães errantes na cidade. Preocupação legítima. Atitude, porém, insana. Por que, então, não descruzar seus braços que hoje preparam pãezinhos que matam, e mente tacanha, em ações mais eficazes e dignificantes? Exemplo de ações mais eficazes? Cobrar do poder público municipal políticas de saúde pública, campanhas de conscientização, castração em massa, adoção e unir esforços aos cidadãos de bem, voluntários, que lutam diariamente por bandeiras como essas e em nome da proteção animal. 

A notícia que saiu na imprensa


Extermínio de cães envenena Bicas *

Não é a primeira vez que animais de rua e domésticos são envenenados no município de Bicas, a 40 quilômetros de Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira. No início dos anos 2000, cerca de 50 cães foram mortos em circunstâncias semelhantes. O responsável não foi identificado. Agora o criminoso – ainda não se pode dizer se é o mesmo – está à solta e deixa a população em alerta. 

Desde janeiro foram registrados mais de 80 casos de cães mortos, supostamente por envenenamento, depois da ingestão de substância vermelha, líquida, aplicada em pão doce e carne. Ativistas da região acreditam que o número pode dobrar, já que para grande parte não houve boletim de ocorrência. 

Na esquina de Rua 15 com a Santa Cecília, no Centro, o corpo da cadela marrom atrai o jovem cão alvinegro, que parece não se conformar com a morte da companheira. Ele gira de um lado para o outro, inquieto. Faz uso da pata e do focinho para tentar, em vão, despertar a cadela, de olhos abertos. Outros cães, do outro lado da esquina, assistem à cena com “notável expressão de tristeza”. 

Quem relata a cena da manhã de domingo, emocionado, é Ricardo Rossi, de 46. Ele registrou a ação dos vira-latas. Sensibilizado, abraçou a causa e está empenhado em colaborar para o fim da “atrocidade”. “É um caso de saúde pública da maior gravidade. Além do crime contra os animais, esses alimentos envenenados estão colocando em risco a vida das crianças”, ressalta.

O empresário e fotógrafo conta a morte de Belinha, do sobrinho Igor, de 10 anos. “O pão com veneno estava pela metade na varanda. Ela comeu, entrou em casa, deitou ao colo do meu sobrinho, desceu do sofá, tonta, e morreu pouco depois.” Ricardo cita relatos variados de garotos que perderam seus animais nas últimas semanas. A ação do veneno é rápida: 20 minutos, segundo testemunhas. 

Há registros de 18 envenenamentos num único dia. Para Ademir Ferreira Ribeiro, de 39, o criminoso “não tem coração”. “Estamos muito chocados com o que vem acontecendo. Não fazíamos ideia de que o absurdo tinha ganhado essa proporção”, lamenta. O farmacista, morador da Região Central, é dono de um pequeno vira-lata, Marlo, retirado das ruas.

A presidente e fundadora da Sociedade Protetora dos Animais de Bicas, Eliane Cristina Schettino, de 49, reclama a falta de envolvimento da população para ajudar a identificar o criminoso. “Marcamos uma reunião de emergência na manhã de hoje (ontem). Esperávamos participação em massa e fomos apenas três os presentes.” Para ela, a gravidade da situação é tamanha que as autoridades não sabem o que fazer.

Há ainda outro fator que pesa, segundo Eliane. Muitos cães de municípios vizinhos estão sendo abandonados na entrada de Bicas. “Como sabem que temos uma sociedade protetora atuante, muita gente tem largado animais na entrada de nossa cidade.” Já são mais de 2,5 mil animais cadastrados pela empresária e seu grupo de voluntários desde 1998.

Entre as histórias que mais tocam os ambientalistas locais está o caso do cão Fred. Próximo às eleições, no ano passado, o vira-lata mobilizou parte da sociedade biquense. Com grave problema de saúde – um verme de mais de meio metro nos rins –, Fred, que ela descreveu “em gritos de dor”, foi recolhido para atendimento de urgência. 

“Não conseguimos encontrar o veterinário. Corremos para a clínica de Juiz de Fora e ele foi salvo depois de cirurgia bem complicada para retirada de um rim”, relata. Foram gastos cerca de R$ 1,5 mil com despesas médicas pela vida do cão. Com tristeza, Eliane aponta Fred entre os envenenados deste ano. 

Vigilância

A secretária de Meio Ambiente de Bicas, Marina Lobo, de 37, contabiliza ainda a morte de dois urubus que se alimentaram da carcaça de um cão morto jogado num aterro próximo ao Parque de Exposições. A gestora ambiental revela que os funcionários da prefeitura – especialmente, os responsáveis pela varrição, que começa às 5h – estão atentos à ação do criminoso.

“É um caso de polícia e estamos acompanhando e aguardando o resultado das investigações”, diz. Entre as medidas tomadas pelas autoridades locais, uma vereadora chegou a colocar um carro de som nas ruas alertando a população sobre a ação criminosa contra os animais e os riscos de envenenamento.
 

Criminoso na mira

A polícia de Bicas, ainda que com problemas estruturais e falta de pessoal, vem investigando as mortes. O delegado Sérgio Luís Lamas Moreira, de 37, trata o caso com cautela e não confirma o número “tão elevado” de ocorrências provocadas por veneno. “Não pode ser descartada a possibilidade de surto de cinomose, com sintomas bem parecidos com os de envenenamento. A preocupação inicial é a identificação do ato criminoso”, explica. No caso de crime, o policial espera poder contar com a ajuda dos biquenses. “Fazemos um apelo para a população. Caso o número de cães envenenados seja tão alto, certamente alguém sabe de algo e vai poder nos ajudar”, espera. Imagens de câmeras estão sendo analisadas. O número para denúncias é 181 ou (32) 3271-1437.

*Matéria publicada pelo jornal Estado de Minas, quinta-feira, 21/03/2013. Texto de Jefferson da Fonseca Coutinho

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